terça-feira, 11 de março de 2014

Vida: um produto globalizado



 Por Eduardo Silveira

Querida mamãe,

Hoje é dia das mães, mas eu não posso abraçar você porque eu não te conheço.  Tudo bem, eu não estou triste. Eu tenho dois papais que me amam muito, mas às vezes eu tenho curiosidade de saber quem é você ou.... Quem são vocês? Eu já sei que também tenho duas mamães. Uma delas vendeu seu óvulo para que meus papais pudessem ter um filho (eu no caso) e depois eu também sei que passei nove meses na barriga de outra mamãe que me gerou. Eu sei de tudo isso. Eu entendo. Mas eu nunca pude sentir o carinho de vocês e nem olhar nos seus olhos. Será que você, mamãe que vendeu o óvulo, também faz essa covinha na bochecha quando sorri? E você, mamãe que me gerou, será que cantava pra mim quando eu estava na sua barriga e é por isso que hoje eu gosto tanto de música?
Onde vocês estiverem, saibam que eu queria muito conhecer vocês.

Um abraço com carinho.

Pedrinho.



Essa carta é fictícia, mas ela traz uma realidade no mínimo instigante: as novas possibilidades que as técnicas de reprodução assistida atuais, vinculadas à falta de definições éticas precisas, trazem para a sociedade.
Notícia sobre o nascimento de Louise Brown,
primeiro bebê de proveta do mundo.

As técnicas de reprodução assistida foram utilizadas pela primeira vez em 1978 e possibilitaram o nascimento do primeiro bebê de proveta (Louise Brown na Inglaterra). Desde então, as técnicas se aprimoraram assim como a maneira pela qual elas vêm sendo utilizadas. Se inicialmente o advento da reprodução assistida permitiu que casais com problemas de fertilidade pudessem realizar o sonho de ter um filho, hoje pessoas já podem utilizar os gametas e o corpo de outras para ter um filho. Esse desenvolvimento técnico, associado ao avanço das fronteiras sociais, permite que grupos minoritários, como por exemplo, casais de homossexuais ou solteiros já possam ter um filho biológico “seu”. 


Procedimento de ICSI (Injeção intracitoplasmática de
espermatozoide). Uma das técnicas mais avançadas de
fertilização in vitro. Nela, um espermatozoide é injetado
com auxílio de uma micro seringa diretamente no óvulo
de uma mulher. (Foto: infert.com.br)

Porém, ao lado dessas maravilhosas possibilidades que possibilitam a maternidade a casais que antigamente nunca poderiam sonhar em ter um filho biológico, surgem novas e delicadas questões que precisam ser também discutidas. 

Abaixo trago algumas delas:
Hoje em dia é possível um casal gay do Brasil, contratar uma empresa americana (um exemplo é a empresa Planet Hospital - Companhia de Turismo Médico), para utilizar o óvulo de uma mulher espanhola e gestar a criança no útero de uma mulher indiana. Tudo isso claro, se o casal puder arcar com os custos do procedimento. Nesse caso, ele pode ver um catálogo com fotos das “doadoras” do gameta e escolher a que mais lhes pareça interessante.
Mulheres indianas que alugam seus úteros e durante a
gestação vivem em pensões e são sustentadas pelos
futuros pais dos filhos que geram. (foto: BBC)
Toda essa prática está ligada a questões extremamente discutíveis como: o mercado de gametas (nos Estados Unidos anúncios chegam a oferecer U$S 5 mil pelos gametas de mulheres bonitas e inteligentes), a doação de útero (em alguns casos os úteros são de mulheres que vivem em situação de extrema pobreza em países como Índia e aceitam gestar uma criança pela retribuição monetária) e a escolha de características do filho (como sexo e fenótipos específicos – cabelos loiros, olhos verdes, etc), entre outras. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina publicou em 2013 uma resolução normatizadora para os procedimentos de reprodução assistida feitos aqui. 


Toda essa discussão levanta questões éticas extremamente pertinentes: até onde temos o direito de intervir na bela e precisa história da natureza? Embora tenhamos condições técnico-científicas cada vez maiores, por onde devemos orientá-las? Seria na lógica capitalista que rapidamente torna tudo um produto atrelado ao modelo do lucro? Vale lembrar que a ciência sem uma orientação sensata e coerente corre o grande risco de sozinha, perder-se nas teias do egocentrismo e ambição humanas...

Não estamos deixando de levar em conta questões importantíssimas que são mais delicadas e sutis e podem se refletir, por exemplo, nas angústias infantis de crianças não tão fictícias como o Pedrinho?






quinta-feira, 6 de março de 2014

Deu branco: o albinismo no reino animal

É possível observar milhares de padrões de cores diferentes no reino animal. Na maioria das vezes esses padrões são atribuídos a uma proteína chamada melanina (a mesma que origina diferentes tons de pele na espécie humana). Entretanto, dentro de um grupo de animais que apresentam coloração, podem existir indivíduos que são completamente brancos. Nesses casos, estamos falando de uma condição genética denominada de albinismo, que é caracterizada pela falta parcial ou total de melanina na pele, olhos e pelos. Muitas vezes relacionamos o albinismo apenas a espécies humana. Mas, há casos de albinismo em todo o reino animal. Isso quer dizer que existem cobras, tartarugas, pavões, leões, tigres e jacarés albinos. Os exemplos são intermináveis.


A pergunta que fica é, se os casos de albinismos são tão frequentes, será que ausência de pigmentação irá influenciar na chance de sobrevivência do animal?

A resposta é sim, animais albinos terão menores chances de sobreviver no ambiente natural. Em primeiro lugar porque terão chances maiores de desenvolverem doenças de pele, principalmente o câncer. Além disso, a falta de melanina nos olhos acarreta problemas de visão ao longo da vida do animal. Lembre-se que um animal que não enxerga direito é um animal que tem dificuldade para se alimentar, que não encontra abrigo e que não foge bem de predador. E, por fim, os animais albinos se destacam com facilidade, tornando-se mais visíveis aos predadores.

Quando nascem em zoológicos, os animais albinos são ensinados desde cedo a se protegerem do sol e são acompanhados em relação a alimentação e problemas de visão e de pele, por isso, apresentam chances maiores de sobrevivência.

Fonte da imagem: http://500px.com/photo/7138237

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Nobel de Fisiologia ou Medicina 2013


O químico e inventor sueco Alfred Bernhard Nobel (1833-1896) foi um homem que fez fortuna produzindo explosivos. Em seu currículo, Nobel é o responsável pela invenção da dinamite. Alfred que estava infeliz com o uso militar dos explosivos que havia criado, ficou extremamente chocado após uma publicação francesa equivocada de um longo obituário1 feito para ele, por que engano, qualificando-o como "mercador da morte".
A criação dos Prêmios Nobel ocorreu por um acaso. Alfred Nobel deixou uma herança milionária em seu testamento redigido em 1895 que determinava a criação de uma instituição. O principal objetivo desta instituição seria de recompensar, a cada ano, pessoas que prestaram grandes serviços à Humanidade, nos campos da paz ou da diplomacia, literatura, química, fisiologia ou medicina e física.


TEM BIÓLOGO GANHANDO O PRÊMIO

Inúmeros cientistas citados nas aulas de biologia já foram condecorados com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina: Robert Koch (1905); Camillo Golgi e Santiago Cajal (1906); Karl Landsteiner (1930); Hans Adolf Krebs (1953); Francis Crick, James Watson e Maurice Wilkins (1962); entre outros colaboradores. Em 2013 o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina foi atribuído para 3 cientistas: James E. Rothman (biomédico), Randy W. Schekman (biólogo) e Thomas C. Südhof (biomédico) por suas contribuições frente a um importante sistema de transporte em nossas células, a regulação do tráfego de vesículas. A ilustração a baixo sintetiza as contribuições dos condecorados.
Fonte: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2013/10/dois-americanos-e-um-alemao-levam-nobel-de-medicina-2013.html
MAS O QUE SÃO VESÍCULAS?

Vesículas são compartimentos envoltos por uma bicamada lipídica tipicamente pequenos, que armazenam, transportam, digerem e secretam moléculas, organelas e corpos estranhos às células. São formadas a partir de membranas pré-existentes, se destacando delas, e servindo para organização celular, além de também funcionarem como câmaras para reações químicas.
O sistema de transporte de vesículas da célula é um conjunto de subsistemas responsável pela formação, amadurecimento, fusão e secreção de vesículas no interior da célula.


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1 “O rei da dinamite”. Lá, o jornal afirmava que Alfred Nobel, o homem que tinha construído uma fortuna explodindo coisas – e pessoas –, estava morto. Ao escrever o texto, o repórter confundiu o nome de Alfred com o de seu irmão Ludwig, esse sim morto no dia anterior. Nobel teve uma oportunidade concedida a poucas pessoas: ler seu próprio obituário ainda em vida. Aquilo que ele leu o horrorizou. (Fonte: Revista Superinteressante)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Mataram o Marius

 

Autor: Marcelo Rennó Braga

Domingo dia 09/02/2014, Marius, de apenas um ano e meio de vida, foi executado com um tiro apesar de milhares de pedidos para evitar a morte do animal. Trata-se de uma girafa que habitava o zoológico de Copenhague na Dinamarca. A justificativa para execução foi à necessidade de evitar cruzamentos consanguíneos, aqueles em que se aumenta a chance de combinações genéticas indesejáveis. A necropsia foi transmitida ao vivo pela internet e visitantes puderam assistir no local o procedimento que terminou com a carne servida aos leões. A repercussão negativa foi tão grande que o diretor científico do zoológico foi até ameaçado de morte. Eu não tenho dúvidas que existiam alternativas para evitar a execução, entre eles intervenções contraceptivas e transferência para outros zoológicos. De fato, vários zoológicos se ofereceram em vão para receber o animal. Apesar da minha indignação ser genuína no mesmo final de semana comi um belo churrasco, uma costela de boi assada no fogo de chão. Agora enfrento um dilema moral; será que viro vegetariano ou deixo o próximo Boi Marius morrer em paz enquanto como minha picanha mal passada? Maldita contradição humana. 

Fonte da notícia: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/02/140209_girafa_polemica_fn.shtml

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Perfil do autor - Gustavo Franthesco Kerntopf

Olá! Nascido em Nova Londrina/PR, município interiorano, me graduei em Ciências Biológicas com Ênfase em Biotecnologia pela Universidade Paranaense (Unipar, Paranavaí/PR) e conclui pós-graduação strictu sensu em Microbiologia - concentração em Virologia - pela Universidade Estadual de Londrina (UEL, Londrina/PR). Enquanto educador, atuo no Ensino a Distância como tutor e, no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico como professor no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), além de desenvolver a modalidade de Ensino Não-Formal como Diretor de projetos e Mestre do Clã Pioneiro no Grupo Escoteiro Antonio Carlos (GEAC). Adoro pedalar, acampar e respirar o ar da mata, estudar e gosto de desafios.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Perfil do autor - Eduardo Silveira

Sou biólogo, ator, palhaço, professor... Não necessariamente nessa ordem, o que sempre me causa certa dificuldade ao escrever esse tipo de apresentação. Embora eu tenha escolhi dedicar-me mais ao teatro, sou aficionado pela arte e cultura em suas mais diversas expressões e sempre tento ver a biologia na arte ou a arte na biologia. Terminei o Bacharelado e a Licenciatura em biologia em 2005 e segui com um Mestrado em educação, todos pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente estou finalizando o Doutorado em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina. Já fui professor da área de didática na Universidade Federal do Paraná e hoje sou professor de biologia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. Paralelamente desenvolvo um trabalho de pesquisa teatral baseado no palhaço e na improvisação teatral o que me fez criar e desenvolver o Palhaço Verde Gaia Filho. Não vivo sem música e um livro de literatura. Adoro nadar (inclusive no inverno!) e escalar.


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Perfil do autor - Marcelo Rennó Braga

Apaixonado por Biologia e Mergulho desde que coloquei uma máscara e um snorkel pela primeira vez em 1987. Concluí o Bacharelado e a Licenciatura em biologia no ano de 2000 e continuei os estudos realizando o Mestrado e Doutorado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná. Lecionei na Universidade Tuiuti e na Universidade Tecnológica Federal do Paraná e atualmente sou professor do Instituto Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina. Paralelamente a carreira de biólogo eu também me dediquei à formação profissional como mergulhador e me tornei Instrutor de Mergulho pela NAUI (National Association of Underwater Instructors) em 2000 e posteriormente Instrutor de Mergulho PDIC (Professional Diving Instructors Corporation) e IANTD (International Association of Nitrox and Technical Divers). Atuei no treinamento e formação de mergulhadores na escola Acquanauta de Curitiba e atualmente pratico o mergulho de forma recreativa.  Obviamente também possuo outros interesses como a família, esposa e duas filhas (as mulheres da minha vida), fotografia, música e outros esportes como o surf e o montanhismo.