terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Mataram o Marius

 

Autor: Marcelo Rennó Braga

Domingo dia 09/02/2014, Marius, de apenas um ano e meio de vida, foi executado com um tiro apesar de milhares de pedidos para evitar a morte do animal. Trata-se de uma girafa que habitava o zoológico de Copenhague na Dinamarca. A justificativa para execução foi à necessidade de evitar cruzamentos consanguíneos, aqueles em que se aumenta a chance de combinações genéticas indesejáveis. A necropsia foi transmitida ao vivo pela internet e visitantes puderam assistir no local o procedimento que terminou com a carne servida aos leões. A repercussão negativa foi tão grande que o diretor científico do zoológico foi até ameaçado de morte. Eu não tenho dúvidas que existiam alternativas para evitar a execução, entre eles intervenções contraceptivas e transferência para outros zoológicos. De fato, vários zoológicos se ofereceram em vão para receber o animal. Apesar da minha indignação ser genuína no mesmo final de semana comi um belo churrasco, uma costela de boi assada no fogo de chão. Agora enfrento um dilema moral; será que viro vegetariano ou deixo o próximo Boi Marius morrer em paz enquanto como minha picanha mal passada? Maldita contradição humana. 

Fonte da notícia: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/02/140209_girafa_polemica_fn.shtml

3 comentários:

  1. É uma piada a justificativa de Bengt Holst para eliminar o jovem Marius. Zelar pelo bem-estar, conservar fora do habitat de origem, pesquisar e a educação ambiental são alguns pilares que sustentam os zoológicos. Qual desses pelares foi abalado por Holst?
    Na média, o tempo de gestação de uma girafa é de 15 a 16 meses, nascendo posteriormente uma única cria. Enquanto a fêmea está em gestação o resto do grupo tem o papel de protege-los contra predadores, entre eles leões, chitas, hienas e cães selvagens.
    Havia outros meios para evitar o sacrifício do animal, como exemplo castração e doação para outro zoológico. Partindo da premissa bíblica, quando matamos ou tiramos vida, estamos "usurpando o lugar de Deus", pois, no livro sagrado está indicado "Não Matarás", ou seja, não interromper uma vida.
    Por tanto, manifesto minha indignação neste texto!

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  2. Eu me pergunto até onde vai o direito do ser humano de decidir sobre a vida dos outros seres vivos. Qual é a justificativa para um tal ato?
    Como se não bastasse a morte do pobre Marius, em outro zoológico dinamarquês, um outro Marius, de 7 anos pode ter o mesmo fim!! O que fazer?

    http://www.estadao.com.br/noticias/vida,outra-girafa-de-zoologico-dinamarques-pode-ser-sacrificada,1130075,0.htm

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  3. Acredito que o mais forte na publicação não é a morte de Marius em si, mas justamente a questão da contradição que o Marcelo muito bem evidenciou. Vivemos em uma sociedade profundamente diversa culturalmente e na qual a velocidade é palavra de ordem. Ter informação, propagar opinião, posicionar-se, saber A verdade, enfim...

    Nesse rodamoinho de posicionamentos e relações sociais profundamente marcadas por dinâmicas culturais, muitas vezes a biologia que nos constitui cala-se e torna-se quase uma sombra. Na vida biológica não existe contradição. É um ciclo limpo, claro e preciso.

    A partir do momento que deixamos de lado nossa dimensão biológica e deixamos de nos ver como animais, parece que também morre algo como uma ética instintiva que determina o fluxo natural da vida (na natureza, um leão não mata mais do que o necessário para sua alimentação). Ou seja, perdemo-nos em meio a uma vida sufocante de opiniões, bandeiras e ideias que dificilmente paramos para refletir o que de fato significam.

    Somos contraditórios..... Erramos, fracassamos, etc... Acredito que aceitar essa condição seja a primeira marca de comunhão com a morte de Marius. Perceber quando essa contradição se expressa e o que faz que não consigamos nos libertar dela, talvez seja um dos possíveis caminhos para escapar da espetacularização da vida que nos cerca e exige que deixemos nosso ser biológico morrer banalmente e ser autopsiado, assim como Marius, pela lógica que rege a sociedade do espetáculo.

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