Um artigo muito
interessante publicado em 2003 estabeleceu uma ligação entre os nossos estados
emocionais e a produção de anticorpos que nos imuniza contra doenças. Essa
ligação foi estudada através de um experimento engenhoso.
Os pesquisadores já
sabiam que uma maior ativação de uma determinada área do lado direito do
cérebro (chamada córtex pré-frontal direito, veja a figura do cérebro abaixo)
estava associada a estados emocionais de depressão ("tristeza"). Além
disso era sabido que quando estamos submetidos a estados emocionais fortes
nossos olhos apresentam tremores musculares.
Diagrama
representando o a área mais externa do cérebro (o córtex) vista de lado.
A área associada a depressão se encontra na parte frontal direita (cortex
de associação pré-frontral).
Eles então propuseram
que um grupo de voluntários tentasse se lembrar e escrever a respeito dos
momentos mais tristes de suas vidas enquanto monitoravam a ativação de seus
cérebros e o grau de tremor dos olhos através de aparelhos. Verificaram então
que algumas pessoas ativavam mais essa região do lado direito do cérebro
(ligada a depressão) e tremiam mais os olhos do que outras quando se lembravam
de coisas tristes.
Separaram então os
voluntários em dois grupos: um grupo que ativava muito o lado direito do
cérebro e sofria de tremores oculares mais intensos (e que estariam portanto
mais sujeitos a depressão) e outro grupo que ativava mais o lado esquerdo
quando pensavam em coisas tristes (e que seriam portanto mais resistentes a
depressão).
Depois os cientistas
injetaram vacinas contendo o vírus da gripe enfraquecido nos dois grupos de
pessoas e mediram, após 6 meses, a quantidade de anticorpos anti-gripe
produzidos pelos dois grupos de voluntários. Como o vírus da gripe contem
substâncias (antígenos) que o sistema imunológico humano reconhece como
estranhas após algum tempo o corpo dos dois grupos de voluntários fabricaram
anticorpos que neutralizavam os antígenos da gripe.
Contudo, o que os
pesquisadores descobriram é que o grupo de pessoas que ativava mais o lado
direito do cérebro (e que portanto supunham estar mais deprimido) haviam
produzido menos anticorpos anti-gripe do que aqueles que ativavam mais o lado
pré-frontal esquerdo.
Ou seja aparentemente o
estado emocional de tristeza estava relacionado a uma menor capacidade produzir
anticorpos para defender o corpo de antígenos como o vírus da gripe. Dessa
forma a vacinação teria um efeito protetor menor sobre o organismo das pessoas
mais deprimidas
Existem várias
explicações possíveis para essa interação. Por exemplo: 1) a tristeza prejudica
nosso sistema imunológico ou 2) um sistema imunológico prejudicado produz
tristeza.
Atualmente muitos
pesquisadores acreditam que a hipótese 1 seja válida (o que não impede que a 2
também possa ser verdadeira). Por via das dúvidas vale a pena tentar lidar com
os problemas de nosso dia-a-dia da maneira mais bem-humorada possível (alguns
dias, é claro, são mais fáceis do que outros). Afinal, nosso sistema
imunológico parece "ficar feliz" e nos proteger de doenças melhor
quando não nos estressamos por qualquer motivo.
Rosenkranz et al . PNAS September 16, 2003 , vol.
100, no. 19, 11149
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