quinta-feira, 15 de maio de 2014

Breve História da Anatomia e Fisiologia Humana

 Por Eduardo Silveira

Onde se localiza seu fígado? Qual é o maior osso do corpo e onde ele se localiza? Como se movimenta o sangue dentro dos vasos sanguíneos?

Perguntas como essa, que podem nos parecer banais, durante muito tempo na história da humanidade eram verdadeiros enigmas para os seres humanos. Durante muito tempo, o estudo e conhecimento do corpo humano foi motivo de peripécias estranhas e até mesmo insanas!! A ideia dessa postagem é discutir um pouquinho sobre essa história.

I. De porcos, macacos a humanos?

Uma ilustração do sistema venoso dentro
do corpo do século XIII . De acordo com
Galeno o sistema venoso era distinto do
arterial, e o sangue vazava e fluia através
do corpo.
Certamente existiram estudiosos mais antigos que pensaram e estudaram o corpo humano, mas o primeiro que se destacou e cujo nome sobrevive até hoje foi Cláudio Galeno (~129 - 201), um grande médico e filósofo romano de origem grega. Galeno teve grande influência de Aristóteles em suas ideias e foi um dos primeiros a desenvolver estudos e tratados sobre como se organizava o interior do corpo humano e seu funcionamento. Ele ganhou tanto prestígio que suas teorias eram inquestionáveis. Foi ele que descobriu, por exemplo, que as artérias trasnsportam sangue e não ar. Ou que o rim tem uma função na excreção. Porém, na sua época a utilização de corpos humanos para estudo era proibida. Assim, Galeno baseou todas suas teorias na utilização de espécies animais "próximas" ao ser humano - macacos, porcos, ovelhas e ursos. Certamente isso também fez que ele incorresse em erros. Por exemplo, ele imaginava que o sangue circulava dentro dos vasos por força de atração da parede das artérias. Mesmo assim, seus trabalhos foram inquestionáveis até a idade média. 




II. Roubemos os corpos, precisasmos estudá-los!

Uma ilustração de Leonardo da Vinci
acompanhada de detalhes em relação
ao sistema respiratório e musculatura
da perna.
No fim da idade média, quando a ciência conseguiu voltar a se desenvolver, surge novamente um grande interesse pelo estudo da anatomia e fisiologia humana. Como a igreja ainda tem um papel relevante na sociedade, os médicos e anatomistas precisam agir silenciosamente nas sombras. É assim que começam a acontecer saques em cemitérios, cadáveres condenados à morte que ficam enforcados pelas ruas, misteriosamente desaparecem e voltam a surgir nos manuscritos de homens como, por exemplo, Leonardo Da Vinci (1452 - 1519). Ele foi um dos primeiros grandes anatomistas do Renascimento (Séc. XV). Leonardo foi responsável pela dissecação de mais de trinta cadáveres que resultaram em centenas de ilustrações anatômicas descritivas, extremamente precisas e compostas por notas e minuciosos detalhes. Em suas ilustrações, Leonardo representava partes do corpo como se estivessem sendo vistas de cima ou de baixo. Músculos eram representados em camadas, mostrando sua complexidade. Leonardo também desempenhou uma série de estudos craniofaciais na tentativa de encontrar a alma. Isso depois de supor que ela deveria encontrar-se no cérebro, através de experimentos realizados em sapos, nos quais perfurava a cavidade craniana e rompia a medula vertebral percebendo que isso ocasionava morte instantânea. Talvez uma das ilustrações mais bonitas feitas por ele, seja aquela que representa um feto humano, ainda no útero e envolvido pelas membranas amnióticas e corretamente
acomodado em uma posição pélvica.


Ilustração de Leonardo Da Vinci mostrando a criança
dentro do útero da mulher na posição correta. Ele
escreve como legenda dessa ilustração: “Uma mesma alma
governa estes dois corpos [mãe e feto]; e os desejos,
temores e sofrimentos são comuns a estas criaturas [...]”

III. Anatomia institucional: grandes teatros.

Gravura de 1609, feita por Bartholomeus Dolendo,
mostrando o Teatro Anatômico de Leiden, Holanda.
Como a prática da anatomia começca a se tornar muito forte, a igreja passa a ter dificuldade em controlá-la.Gerolano Fabrizio D’Acquapendente, ele funcionou desde sua inauguração em 1595 até 1872. Os teatro anatômicos são espaços construídos especialmente para a dissecação anatômica que passou a se tornar um grande evento! Eles eram espaços de espetacularização da ciência nascente que apresentavam toda uma simbologia complexa. Em sua arquitetura, muitos deles seguiam as proporções vitruvianas, celebrando a mecanicidade das nascentes leis que regiam o universo e o ser humano. Nos teatros anatômicos e na nascente ciência que se estabelecia, o corpo humano exposto e extravasado era o ápice para se acessar as leis gerais da vida e do universo, alardeadas pela ciência (MONTEIRO, 2011). As pessoas compravam ingressos para assistir o cadáver ser devassado! Inclusive, nos intervalos da dissecação eram servidos banquetes regados à vinho e boa música!!!
Assim, ela se torna institucional. Inclusive a igreja, já no século XIV passa a outorgar a autorização para se proceder o ato anatômico através de uma bula papal de Bonifacio VIII (LE BRETON, 2008). Surgem, assim, os teatros anatômicos permanentes, como o Teatro Anatômico de Pádua, o primeiro da história. Construído pelo anatomista 

Imagem atual do Teatro Anatômico de Pádua, na Itália.
 
Ilustração do livro A Fabrica
de Vesalius.

 Foi nesse período que um dos grande anatomistas da história viveu. Foi Andreas Vasalius (1514 - 1564), um médico Belga que teve sua ascensão profissional já na Universidade de Pádua, na Itália. Iniciou dissecando animais e posteriormente passou a exercer sua atividade com cadáveres humanos. Já em Pádua, em 1537, foi o primeiro anatomista a receber salário como professor de anatomia. Quando as dissecações começam a tornarem-se mais comuns, Vesalius é um dos primeiros médicos a contestar os ensinos de Galeno e retificar antigas noções equivocadas, a partir de observações próprias e uso de cadáveres em salas de aula. Em meio a muitas críticas de defensores de Galeno, Vesalius tornou-se a base para o desenvolvimento da anatomia contemporânea por deixar descritas suas observações no clássico livro de anatomia publicado em 1543, De humani corporis fabrica liber septem (Sete livros sobre a estrutura do corpo humano), chamado resumidamente de A fabrica.
A fabrica é um livro que apresenta diversas ilustrações, assim como aquelas feitas por Leonardo da Vinci. Porém, as ilustrações anatômicas realizadas no livro de Vesalius, não trazem somente a imagem neutra e fria dos corpos e suas entranhas. Nelas, há também uma criação ficcional e todo um simbolismo realizado pelo artista e pelo anatomista. Pela postura expressa nas ilustrações, os cadáveres do livro de Vesalius são chamados de supliciados.

Ilustração do livro A Fabrica, de Vesalius.

IV. A anatomia atualmente.
Imagem de ressonância magnética da
cabeça de uma pessoa.

Certamente toda essa história ainda resiste e persiste nos conhecimentos atuais da anatomia. Embora hoje já tenhamos muita tecnologia que nos permite ver e estudar coisas que há bem pouco tempo eram inimagináveis e inclusive estudar a anatomia em pessoas vivas (através de técnicas de imagem como radiografia, endoscopia, tomografica computadorizada e ressonância magnética, por exemplo),  é inegável que o mesmo corpo humano que era estudado há dois mil anos por Galeno, continua nos deslumbrando por seu funcionamento perfeito.






Para ver como a anatomia continua viva, recomendo a visita da exposição "O Fantástico Corpo Humano" que está em cartaz no BeiraMar Shopping, até o dia 27/05!

Referências:

LE BRETON, David. Antropología del cuerpo y modernidad. Buenos Aires: Nueva Visión, 2008.

MONTEIRO, Marko. Teatro anatômico digital: práticas de representação do corpo na ciência. Hist., Ciên., Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.18, n.3, jul.-set. 2011, p.641-660.

 http://www.princeton.edu/~his291/Medieval_Anatomy_2.html - Ilustração medieval.

http://www.gfmer.ch/International_activities_En/Leonardo_anatomical_drawings.htm - Ilustrações de Leonardo da Vinci.

http://www.vesaliusfabrica.com/ - Informações sobre os livros de A Fabrica, de Andreas Vesalius.





quarta-feira, 7 de maio de 2014

Células-tronco humanas conseguem regenerar coração de macaco

Tratamento foi capaz de regenerar 40% de tecido danificado por infarto.
Resultado traz esperança de que estratégia possa ser usada em humanos.

 

Cientista Charles Murry mostra um recipiente com células cardíacas derivadas de células-tronco humanas em seu laboratório  (Foto: Clare McLean/University of Washington/Divulgação)

Cientista Charles Murry mostra um recipiente com células cardíacas derivadas de células-tronco humanas em seu laboratório (Foto: Clare McLean/University of Washington/Divulgação)

Células de fibras musculares cardíacas produzidas a partir de células-tronco embrionárias humanas foram capazes de estimular a recuperação de corações infartados de macacos. Esse resultado, descrito em um artigo publicado nesta quarta-feira (30) na revista científica “Nature”, representa uma esperança de que uma estratégia semelhante possa ser bem sucedida também em humanos.

Até então, o método havia sido testado com sucesso apenas em mamíferos menores, como camundongos e ratos. “Antes deste estudo, não se sabia se era possível produzir um número suficiente dessas células e usá-las para regenerar músculo cardíaco danificado em um animal grande, cujo coração tem tamanho e fisiologia similares aos dos humanos”, diz o cientista Charles Murry, professor de patologia e bioengenharia da Universidade de Washington e um dos autores da pesquisa.
Para testar a terapia, Murry e sua equipe induziram um tipo de infarto no coração de sete macacos, bloqueando a artéria coronária dos animais por 90 minutos. Os animais estavam anestesiados durante o processo. Duas semanas após o infarto induzido, os pesquisadores injetaram no coração de cada macaco um bilhão de células musculares cardíacas derivadas de células-tronco embrionárias humanas. Todos tinham recebido terapia imunossupressora para evitar a rejeição das células humanas transplantadas.
Imagem mostra enxerto de células cardíacas derivadas das células-tronco humanas (em verde) entrelaçadas com as células cardíacas do primata (em vermelho)  (Foto: Murry Lab/Universidade de Washington/Divulgação)
Imagem mostra enxerto de células cardíacas derivadas das células-tronco humanas (em verde)
entrelaçadas com as células cardíacas do primata (em vermelho) (Foto: Murry Lab/Universidade de
Washington/Divulgação)

O resultado foi que as células injetadas se integraram ao tecido danificado pelo infarto e começaram a apresentar batimentos em sincronia com as células cardíacas do animal. O tratamento conseguiu, em média, uma regeneração de 40% do tecido cardíaco danificado. Em alguns dos macacos, a estratégia resultou em uma maior capacidade de bombear sangue. Foi verificado também que vasos sanguíneos cresceram através do tecido cardíaco novo, derivado das células humanas.
“Os resultados mostram que nós podemos agora produzir o número de células necessário para terapia humana e obter a formação de músculo cardíaco novo em uma escala que é relevante para melhorar a função do coração humano”, disse o pesquisador Michael Laflamme, também professor da Universidade de Washington.

Os próximos objetivos da pesquisa serão reduzir o risco de arritmias – observadas nos macacos estudados – e demonstrar definitivamente que o tratamento com células-tronco é capaz de aumentar a capacidade de bombeamento do coração.

Fonte: Programa Bem Estar














terça-feira, 6 de maio de 2014

I Semana de Biologia do IFSC - Florianópolis

Em divulgação, a 1ª Semana da Biologia do IFSC, ocorrerá nos dias entre 27 a 29 de maio de 2014, no IFSC, câmpus Florianópolis, com o tema: Com-versando a Biodiversidade.


Ao longo desses dias serão realizados atividades culturais, oficinas, palestras e concurso criação do logotipo para o BioEcléticA. Leia aqui o regulamento para participação do concurso.

Venha fazer parte desta história!

Inscrição aqui.

sábado, 3 de maio de 2014

Quando a aranha come a cobra!

Por Marília Siebert

A Austrália é um dos locais do planeta com o maior número de animais estranhos. É lá que vive a aranha da seda dourada (Nephila edulis), cujas fêmeas atingem cerca de 4 cm de comprimento de corpo (sem incluir as patas) e os machos, bem menores, cerca de 7 mm.  

Apesar do tamanho das fêmeas fazer com que qualquer aracnofóbico se sinta desconfortável, não é o tamanho que torna esses animais tão peculiares, mas sim seus hábitos alimentares. 

As aranhas da seda dourada secretam grandes e fortes teias douradas, que podem atingir até 1 metro de diâmetro. Teias grandes e fortes possuem um objetivo claro: obter presas grandes e fortes, que no caso são pássaros, lagartos e até cobras!!!

Um cinegrafista flagrou o momento que uma aranha da seda dourada capturou uma cobra. A guerra de forças que se seguiu levou mais de uma hora, até a cobra ser vencida pela aranha. 

Confira abaixo as cenas do banquete e lembre-se de quando for para a Austrália cuidar para não virar a próxima refeição de uma Nephila edulis



Fonte
http://www.iflscience.com/plants-and-animals/spider-versus-snake 
 http://www.arachne.org.au/01_cms/details.asp?ID=1654