quarta-feira, 11 de junho de 2014

Meio gente, meio bicho

Misturas de vários seres vivos em um só organismo já existem em laboratório. O objetivo: descobrir como funcionamos animais, os humanos e o meio termo entre eles

Ratos com cérebro humano, ovelhas com fígado de gente, porcos com sangue nosso nas veias e uma mistura de homem com coelho. Não são monstros nem criaturas superpoderosas. Esses bichos já existem, e podem ajudar você um dia. São apenas os primeiros dos milhares de combinações entre seres humanos e animais que devem surgir nos próximos anos nos laboratórios mais avançados do mundo.
A ideia de misturar várias espécies em um bicho só já existe há algum tempo. O próprio nome que os cientistas usam para designar esses bichos é clássico: quimeras, uma referência à criatura da mitologia grega que possuía cabeça de leão, corpo de cabra e rabo de serpente. Mas as quimeras, na versão século 21, resultam de um dos campos mais promissores da medicina: a manipulação de células-tronco embrionárias. São células retiradas de embriões humanos com cerca de 5 dias de idade e que têm capacidades únicas: podem se dividir indefinidamente e se transformar em qualquer um dos mais de 200 tipos de células do corpo humano. Deixe-as em uma situação apropriada - próximas a outras células ou envoltas nas moléculas certas - e elas podem se transformar em um neurônio, uma célula do coração, um glóbulo vermelho ou qualquer outra parte do corpo. O truque que dá origem às quimeras humanas é inserir células-tronco humanas ao feto de animais em formação. Como resultado, nascem bichos aparentemente normais, que internamente possuem tecidos ou órgãos de gente.
Não se assuste. O objetivo dos cientistas não é se aproximar de clássicos como a Ilha do Dr. Moreau, de H.G.Wells, que conta a história de um cientista que criava misturas de homens e animais em uma ilha deserta. A ideia das quimeras de laboratório é assistir como as células-tronco amadurecem e interagem. E, pela primeira vez, não nos tubos de ensaio de um laboratório, mas no corpo de um ser vivo. É um novo caminho que se abre para entender como surgem certas doenças. Além disso, quanto mais o organismo de cobaias de laboratório se parecer com o nosso, melhores serão os resultados dos testes de drogas realizados neles.
O problema é que, apesar de tantas vantagens, a hibridação de seres humanos com bichos pode tomar rumos bastante reprováveis pela bioética. O problema é se elas forem além dos fetos e passarem a utilizar embriões de animais. Teoricamente seria possível criar seres mistos, como um homem-chimpanzé, dotado de fala e capacidade de compreensão. Em um futuro bizarro, mas teoricamente possível, cientistas poderiam até ser contratados para desenvolver soldados poderosos, com inteligência humana e força animal. Aí, sim, entraríamos na realidade dos cientistas malucos da ficção científica.
O problema é que, até agora, ninguém sabe as verdadeiras possibilidades e os limites éticos desse tipo de experimento. Por esse motivo, não dá para saber que resultados podem ser gerados nem eliminar aqueles que possam ser horríveis demais para contemplar. A discussão, como se apresenta hoje: de um lado, Igreja e grupos conservadores condenam as pesquisas. Do outro, cientistas querem seguir adiante. E, no meio dessa discussão, ratinhos, porcos, ovelhas e coelhos vão ganhando atributos de gente.

Homem/Rato
Num laboratório da Califórnia, camundongos, de dentro de suas gaiolas, observam os cientistas. Se eles estão pensando em algo ou não, é difícil dizer. Mas o cérebro que comanda esses pequenos olhinhos é em parte humano e em parte animal.
Os ratos estão sendo criados no Instituto de Células-Tronco, Biologia e Medicina da Universidade Stanford, Estados Unidos. O coordenador do experimento, Irving Weissman, já fez grandes conquistas no trabalho com quimeras. Na década de 90, ele criou um camundongo com sistema imunológico parecido com o humano que teve papel importante no teste de novas drogas contra aids.
Agora, sua equipe injetou células-tronco neurais em ratos recém-nascidos. As células conseguiram se proliferar e, como resultado, foram criadas quimeras cujo cérebro era cerca de 1% humano. À primeira vista, esses animais não apresentaram nenhuma alteração de comportamento que pudesse sugerir qualquer traço de humanidade. Foi então que, no final do ano passado, Weissman anunciou que pretende ir além - sua intenção é inserir células-tronco neurais em ratos não nascidos, com a estrutura cerebral ainda em formação. "Gostaríamos de criar camundongos com cérebro até 100% humano", disse.
Parece uma monstruosidade, mas não chega a tanto. A arquitetura do cérebro de um camundongo é tão distante da de um homem, que provavelmente a cobaia não iria herdar nenhum tipo de comportamento ou raciocínio de gente. Poderia ser diferente se a experiência fosse feita com um chimpanzé, por exemplo, que tem estrutura cerebral parecida com a nossa. Claro que esse tipo de experimento não é realizado para criar nenhum animal tagarela, com inteligência humana. A ideia é produzir cobaias com cérebro semelhante ao nosso, para testar drogas contra doenças ainda sem cura, como o mal de Parkinson.

Homem/Ovelha
A quimera homem-ovelha, criada nos Estados Unidos, é um bicho estranho. Ela tem fígado quase humano, pâncreas quase humano e cérebro de carneiro. E o mais assustador: externamente, a estranha criatura tem um aspecto de... ovelha.
A experiência, que está sendo desenvolvida no Laboratório de Biotecnologia da Universidade de Nevada, nos Estados Unidos, é uma das mais bem-sucedidas no que se refere à hibridação de homens e animais. A equipe de pesquisadores adiciona células-tronco ainda não diferenciadas a fetos de ovelha. Como o novo organismo ainda está em formação, ele não rejeita o material humano, que passa a integrar seus órgãos e tecidos. Apesar de as células se espalharem por todo o organismo, os únicos órgãos em que elas se concentram em quantidade razoável são justamente aqueles cuja fisiologia é parecida com a do homem. Com esse método, já foram produzidas quimeras com fígado até 25% humano, além de outras misturas em áreas como pâncreas, coração e pele.
Não é por isso que o animal vai ganhar jeitão de gente. "Quando inserimos as células-tronco, o animal já está formado, ele já é um carneiro", diz a cientista portuguesa Graça Almeida-Porada, que integra a equipe. Segundo ela, a parte humana também não se mistura no cérebro nem no aparelho reprodutivo do animal - pelo menos não que se saiba.
O futuro que essa pesquisa indica é um pouco mais impressionante: um rebanho de ovelhas não para serem tosquiadas, mas sim para doarem órgãos e tecidos a seres humanos. A Universidade de Nevada escolheu essa espécie por ser relativamente grande, e com órgãos proporcionais aos do homem. Com o desenvolvimento da pesquisa, acredita-se que um dia os médicos possam transplantar órgãos criados no animal para algum doente sem que haja rejeição. Imagine: se você tiver problemas de fígado, poderá solicitar um novo, que seja compatível com seu organismo, e esperá-lo crescer, quem sabe, no seu quintal.

Homem/Porco
Não é difícil encontrar por aí homens cujo comportamento, o apetite ou mesmo o espírito provêm de um porco. Mas essa interação, que até agora era simples afinidade, começa a ganhar aspecto de parentesco. Em Minnesota, nos Estados Unidos, estão sendo criados porcos com sangue humano nas veias.
A quimera homem-porco, um clássico do imaginário coletivo, tem proporcionado importantes descobertas. Criaturas assim estão sendo produzidas no Departamento de Imunologia da Clínica Mayo, em Minnesota, Estados Unidos, com a mesma técnica de inserção de células-tronco humanas no feto de animais.
Nesse caso, as amostras a serem inseridas estão em um estágio posterior: já se diferenciaram em células sanguíneas. Elas entram então principalmente no sistema circulatório dos porcos. O objetivo da pesquisa é descobrir se o sangue humano consegue se proliferar em organismos animais, para depois ser retransplantado para o homem. Teoricamente, poderia ser o fim das filas para doação de sangue.
Até aí tudo bem. Mas, no começo do ano passado, veio a surpresa: além de sangue humano e sangue suíno circulando nas veias do animal, apareceram células híbridas, em que o DNA do porco simplesmente se fundiu com o do homem. É a primeira vez que células humanas e animais se misturam num nível tão íntimo.
"O que encontramos foi completamente inesperado, e não sabemos por que isso aconteceu", diz o diretor do programa, Jeffrey Platt. De qualquer forma, a descoberta já abriu uma nova janela para a pesquisa científica. Por exemplo, acredita-se que o vírus da aids tenha chegado até o homem por meio de macacos. E até agora não se sabe como esse vírus adquiriu capacidade para entrar numa célula humana. A possibilidade de fusão entre células das duas espécies poderia, segundo Platt, dar novas evidências que ajudem a entender esse fenômeno.
Os porcos quimera da Clínica Mayo, apesar do sangue, não possuem nenhuma outra característica humana. "São animais comuns e completamente saudáveis", explica a portuguesa Marília Cascalho, integrante da equipe. A pesquisadora diz que, por questões técnicas, o laboratório só conseguiu criar porcos com pequena concentração de sangue humano nas veias. Segundo ela, ainda está muito distante o dia em que a transfusão de sangue possa ser viável entre as duas espécies.

Homem/Coelho
Duas crianças de 5 anos, dois homens, uma mulher de 60 e um coelho. Parece uma mistura esdrúxula, e é. Mas foi utilizando material genético dessas cobaias que cientistas chineses criaram o primeiro embrião quimérico do mundo.
Até então, o máximo que as pesquisas ousaram foi inserir células-tronco humanas em fetos de animais já em estado de formação. Mas o que cientistas do Centro de Desenvolvimento Biológico da Universidade Médica de Xangai, China, fizeram foi muito além disso. Eles fundiram o material genético humano com o de um animal, e logo de um coelho.
Na experiência, o DNA humano foi colocado dentro do óvulo das coelhinhas e se desenvolveu até chegar ao estágio de embrião. Entretanto, as células-tronco geradas desse embrião eram totalmente codificadas pelo genoma humano. Ou seja, ao se desenvolver, irão se transformar em tecido de gente, e não de coelho. Se as células quiméricas puderem substituir sem problemas as células-tronco humanas, podem ser de grande ajuda para eventuais transplantes de tecidos em vários tipos de doença.
Por outro lado, esse embrião também poderia ser colocado dentro de um útero humano e estimulado a se desenvolver até se transformar em feto. Nesse caso, não se sabe o quanto de coelho haveria na futura criança. O mais provável é que um embrião desse tipo nem sequer conseguisse sobreviver. Por via das dúvidas, as pesquisas estão paradas e as células resultantes da experiência estão agora na geladeira de um laboratório em Xangai. Todo cuidado é pouco. Se os chineses forem realmente conquistar o mundo, é melhor que não sejam orelhudos nem saltitantes.

Mistura de problemas
As quimeras não são puras aberrações criadas em laboratório. Seres que carregam partes de outro organismo são comuns na natureza. A maioria dos gêmeos possui células do irmão com quem compartilhou o ventre materno. Muitas mães também levam no sangue algumas amostras de cada filho gerado. Pessoas que receberam transplantes de órgãos também são quimeras perante a ciência. Existem até indivíduos que tiveram suas válvulas cardíacas defeituosas substituídas por válvulas de porcos ou de vacas. Mas até onde a mistura é considerada aceitável?
Pessoas que recebem válvulas cardíacas de um porco não são consideradas menos humanas por causa disso. Da mesma forma, animais que possuem algumas células de gente em seu organismo tendem a não ser considerados meio humanos. A polêmica maior envolve os experimentos com o sistema nervoso central. A hibridação de cérebros poderia conferir humanidade a uma cobaia?
"Quando discutimos nosso trabalho, cada um tem seu limite pessoal para lidar com esse dilema", diz Alysson Muotri, do Instituto Salk, nos Estados Unidos. Digamos que um macaco receba células neuronais humanas e desenvolva uma inteligência além do padrão. Essa cobaia passaria a ser tratada com as regalias de um ser humano ou ainda como um animal?
Marília Cascalho, da Clínica Mayo, afirma que, para evitar esse tipo de problema, existe uma regulamentação séria em cima das pesquisas desenvolvidas no instituto. "Todas as experiências precisam ser aprovadas por um conselho de ética, que responde a diretivas governamentais", diz. Ainda assim, sempre existe risco de falhas, ou mesmo de que a experiência fuja do controle. A preocupação mais latente é de que as células-tronco inseridas nos fetos animais vazem para o sistema reprodutivo e se desenvolvam em óvulos ou espermatozoides humanos. Assim, as cobaias poderiam se reproduzir, criando quimeras monstruosas, sem que os cientistas pudessem impedir.
"Ate agora não temos nenhuma evidência experimental de que isso aconteça ou de que possa acontecer. Por enquanto, parece quase impossível formar células germinais das células-tronco", diz a portuguesa Graça Almeida-Porada, que trabalha com ovelhas híbridas.
Mesmo assim, há uma ponta de medo em qualquer pesquisa que envolva genética humana. Pois, como na história do Dr. Moreau, ou em qualquer outra do gênero, no final, a criatura fatalmente se volta contra seu criador.
  

Patente animal

Em 1997, o americano Stuart Newman apresentou um pedido para patentear misturas de homem com ratos, chimpanzés, porcos e babuínos. Newman não é um parente distante do Dr. Frankenstein. Professor do New York Medical College, ele diz que não pretendia criar nenhum monstro em seu laboratório, mas apenas evitar que alguém o fizesse. Embora reconheça a importância das pesquisas, ele teme que as quimeras sejam usadas para, por exemplo, criar soldados com blindagem igual à de tatus. Com a patente, ele espera retardar o processo por pelo menos 20 anos. O primeiro pedido foi recusado em 1998. Ele recorreu à Justiça e, de apelação em apelação, vem mantendo o pedido em suspenso. Outros tiveram mais sorte: em 1999, a Europa deu à companhia australiana Amrad o registro de um método para criar quimeras humanas com ratos, pássaros, porcos, vacas e peixes.

Homem-planta

Que resultado poderia gerar a mistura de genes humanos com os de um pé de milho? À primeira vista, nada melhor do que um Visconde de Sabugosa, personagem do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato. Mas esse casamento é mais frutífero do que parece. Desde 1989, diversas empresas têm se utilizado de vegetais para produzir anticorpos, insulina e até hormônios humanos em grande escala. O método envolve a inserção de DNAs humanos que expressem essas substâncias em sementes de plantas. Ao se desenvolverem, elas vão produzir material semelhante ao do nosso organismo. Claro que ninguém pensou ainda em humanizar uma abóbora ou um pepino. Mas esse tipo de fusão até aqui tem sido um sucesso. Os anticorpos gerados no processo, chamados de ‘planticorpos’, são absorvidos pelo corpo humano sem qualquer rejeição e sua produção é bem mais barata. Milho e o tabaco são as plantas mais usadas, pela sua fácil manipulação in vitro.

Marcelo Bortoloti

domingo, 8 de junho de 2014

Os segredos de uma lagartixa revelados e copiados!

Por Marília Siebert

Você já se perguntou como que as lagartixas conseguem se grudar e escalar qualquer superfície? Os dedos desses pequenos répteis são cobertos por uma fina camada de hastes que formam uma rede e  funcionam como se fossem ventosas, permitindo com que eles se pendurem em qualquer tipo de superfície, mesmo que esteja úmida.

Os dedos de lagartixas são cobertos por uma fina camada de hastes que permite que elas se pendurem e andem pelas paredes. 

Esse sistema forte e flexível de hastes pode segurar até 13 kg por centímetro quadrado, isso significa que as lagartixas conseguem sustentar seu peso todo em uma só pata enquanto se penduram pelas paredes! Inspirados pela aptidão que esses répteis possuem em superfícies verticais, pesquisadores criaram um material para que homens possam escalar paredes. O produto desenvolvido consiste em remos cobertos por Geckskin (que significa pele de lagartixa), uma estrutura que imita a habilidade das lagartixas de se grudarem e escalarem paredes.  A figura abaixo mostra a pata de lagartixa em 3 aumentos diferentes em A, B e C, mostrando o sistema de hastes que permite a escalada em todos os tipos de paredes e o material desenvolvido por cientistas inspirado na lagartixa.

Inspirados nas patas das lagartixas, cientistas desenvolveram um material que permite a escalada em diversos tipos de paredes. 

 Em uma primeira demonstração, um homem de 98 quilos escalou uma parede de vidro, sem quaisquer dificuldades.

Fonte: DARPA (http://www.darpa.mil/NewsEvents/Releases/2014/06/05.aspx)

sábado, 7 de junho de 2014

Mimivírus, Sambavírus e Virófago

Por Gustavo Kerntopf.

Durante um estudo na sequência de um surto de pneumonia no ano de 1992 em Bradford, Inglaterra, foi identificado e descoberto os representantes do gênero Mimivírus (simplificação de Microbe Mimicking virus - Micróbio imitando vírus). A partícula viral foi obtida a partir de uma reservatório de água (torre de resfriamento), crescendo em células de amebas (Acanthamoeba polyphaga) que, devido seu tamanho, forma e após uma coloração de Gram - técnica que se utiliza para diferenciar as bactérias, foi classificado como um pequeno cocos Gram-positivos (Bradfordcoccus). Dez anos depois Scola et al. (2003) publicou um artigo identificando que esse microrganismo como um vírus. 

Curiosidade! O mimivírus pode ser observado em um microscópio óptico convencional, enquanto a maior parte dos vírus só pode ser visualizada em microscópios de elétrons. Após a descoberta desta linhagem de vírus, original da ameba Acanthamoeba polyphaga mimivirus (APMV, figura 1), Scola et al. (2008) enfatiza a necessidade de rever a virologia no contexto ecológico: "a verdadeira natureza do maior vírus conhecido até à data desafiou a definição de um vírus e levou à ideia de que os vírus gigantes podem ser uma parte pouco caracterizada da biosfera". 
Figura 1. Sequência de imagens da partícula de Acanthamoeba polyphaga mimivirus (APMV). (A) APMV isolado; (B) APMV associado ao corpo celular; (C) APMV ligado a extensões celulares; (D) e (E) de recuo do copo como formada na superfície da célula e de grandes extensões celulares de partida para abraçar APMV; (F) APMV envolvido pela célula; (G) Vesícula endocítica a superfície lisa contendo APMV; (H) contendo APMV vesícula mais profundo no citoplasma; (I) APMV contendo vesículas que ocasionalmente fundidos uns com os outros. Disponível em <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Electron_microscopic_images_of_internalization_of_Acanthamoeba_Polyphaga_Mimivirus_-_journal.ppat.1000087.g007.png> Acesso em 07.06.2014.






















































Vírus são partículas orgânicas acelulares, parasitas obrigatórios de Eukarya, Archaea e Bacteria. Correto? Essa afirmativa era verdadeira até pouco tem, pois, incrivelmente, associado aos mimivirus foi descoberto um vírus capaz de contaminar  o mimivírus (Raoult & Forterre, 2008) para obter os genes dos atacados conseguindo assim evoluir geneticamente. Ou seja, a natureza mais uma vez surpreendeu-nos ao controlar a dinâmica populacional de vírus com os chamados virófago. O primeiro virófago detectado é conhecido como Sputnik (satélite em russo), uma analogia por estar associado um vírus infectando uma célula.

Os vírus gigantes também estão presentes no Brasil. A equipe do prof. Scola em parceria com pesquisadores da UFMG publicaram este ano, na revista Virology Journal, a caracterização geral do Sambavírus (SMBV) e de sua associação, ou virógafo, Rio Negro vírus (Campos et al., 2014). Descoberto na região amazônica (figura 2). O genoma do SMBV tem um teor de GC de 27,0% e é de cerca de 50.000 pares de bases maiores do que o genoma de APMV, possui um total de 938 ORFs (sequências codificantes) grelhas de leitura aberta, que variam em tamanho de 150-8835 pb. (figura 3). Mais informações sobre o Sambavírus, leia no Portal EBC.
Figura 2. Localização das coleções caracterizada. Amostras de água foram coletadas a partir do Rio Negro, que está localizado na Amazônia brasileira. (Campos et al. 2014).

Figura 3. (A) tamanho estimado do genoma do Sambavírus montado previu ORFs que são destacadas em azul, revelando uma proporção muito baixa de DNA não-codificante. O círculo mais interno indica o teor de G-C. Regiões com um conteúdo GC superior à média (28%) são destacadas em verde, e menor que a média em roxo; (B) árvore filogenética com base na ribonucleotídeo redutase previu aminoácido do SMBV e outras grandes vírus de DNA nucleo-citoplasmático, enquadrando-se no grupo A dos Megavirales; (C) Os processos biológicos atribuídas ao vírus Samba previu genes, mostrando uma grande proporção de genes envolvidos no processamento de ácido nucleico e do metabolismo celular, bem como a morfogénese virai e regulação intracelular. Adaptado de Campos et al. 2014.
A complexidade viral está cada vez maior. Os Mimivírus possuem um genoma "gigantesco" que lhe proporciona a apresentar um estrutura morfológica exclusiva de poucos vírus, o grupo dos grandes vírus DNA nucleo-citoplamático (Nucleo-cytoplasmic large DNA viruses, NCLDV). Os NCLDV, representado pelas famílias virais Phycodnaviridae, Poxviridae, Asfarviridae, Ascoviridae, Iridoviridae e Mimiviridae, replica-se exclusivamente no citoplasma das células hospedeiras ou começar seu ciclo de vida no núcleo anfitrião, em seguida, preenchê-se no citoplasma (Iyer, Aravind,  Koonin, 2001).

Por fim e de acordo com Yamada (2011), a taxonomia e sistemática viral está sendo forçado a uma revisão e novas discussões sobre a evolução e origem dos vírus, bem como a diferenciação entre os vírus e organismos vivos.
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B. La Scola, S. Audic, C. Robert, L. Jungang, X. de Lamballerie, M. Drancourt, R. Birtles, J.M. Claverie, D. Raoult. A giant virus in amoebae. Science, (2003), 299 (5615):2033.
B. La Scola, C. Desnues, I. Pagnier, C. Robert, L. Barrassi, G. Fournous, M. Merchat, M. Suzan-Monti, P. Forterre, E. Koonin et al. The virophage as a unique parasite of the giant mimivirus. Nature, 455 (2008), p.100-104.
D. Raoult & P. Forterre. Redefining viruses: lessons from Mimivirus. Nature Rev. Microbiol. 6, (2008),  p.315-319.
L.M. Iyer, L. Aravind,  E.V. Koonin. Common origin of four diverse families of large eukaryotic DNA viruses. J Virol, (2001), 75:11720-12134.
R.K. Campos, P.V. Boratto, F.L. Assis, E.R.G.R. Aguiar, L.C.F. Silva, D. Albarnaz, F.P. Dornas, G.S. Trindade, P.P. Ferreira, J.T. Marques et al. Samba virus: a novel mimivirus from a giant rain forest, the Brazilian Amazon. J Virol, (2014), 11:95.
T. Yamada. Giant  viruses  in  the  environment:  their  origins  and  evolution. Curr Opin Virol (2011),  1:1-5.